Nesta postagem, comentarei alguns pontos de um texto traduzido por Fernando Silva, publicado no site "Ateus do Brasil", cujo o link foi me enviado por um amigo e segue abaixo:
http://ateusdobrasil.com.br/artigos/contradicoes/refutando-a-religiao/#more-48
Também tomei a liberdade de acrescentar mais algumas idéias que considero fundamentais a respeito de um tema tão polêmico e que constitui um dos maiores mistérios ( se não o maior de todos eles) envolvendo o Universo.
Para início de conversa, gostaria de deixar claro que não sou ateu, e por outro lado, também não tenho nenhum vínculo com instiuições religiosas, apesar de gostar muito de estudar o tema. As palavras que virão a seguir mostram um pouco o porquê da minha discordância com a posição ateísta e também muitas discordâncias com a posição religiosa, e que me levaram a assumir uma postura mediana entre a fé e a descrença (que particularmente prefiro denominar como sendo um "Agnosticismo Ponderado"). E também gostaria de enfatizar que quando pronuncio Deus em minhas colocações, não estou me referindo necessariamente a um ente restrito à religiões, mas sim à qualquer tipo de "Força superior" que poderia existir (ou não) como sendo uma "Causa inteligente" para o Universo e/ou para todo o conjunto de leis que dirigem o funcionamento do mesmo.
I- Provas da existência de Deus
Existem provas definitivas de que exista um Deus no Universo? A resposta é NÃO! Não existem provas que sustentem a existência de um ser supremo. O fato de não existir provas é suficiente para concluir que Deus não existe? Obviamente a resposta também é não! Mas e se ele Existir? Por que teríamos necessariamente capacidade ou meios de encontrar provas de algo que nem ao menos conseguimos definir com precisão e que poderia (supostamente) ser incomparavelmente superior à humanidade? A ausência de comprovação pode ser um motivo aceitável para alguem não acreditar em algo, mas não para descartar uma possibilidade de existência. Como havia dito em uma outra postagem, ao meu ver, desde o momento em que surgem comprovações de algo, não há a necessidade de se acreditar nesse algo, mas sim de se aceitar como sendo um fato. O verbo acreditar, para mim, continua sendo mais compatível com aquilo que não pode ser comprovado.
Como por exemplo: Muitos cientistas ACREDITAM que exista vida em outros planetas ou em algum outro lugar na imensidão do cosmos. Porém NÃO HÁ EVIDÊNCIAS que comprovem a existência de vida em outro lugar que não a nossa morada Terra. Caso sejam encontradas tais evidências, simplesmente deve se ACEITAR o fato de que em algum lugar fora de nosso planeta foi encontrado vida. Neste contexto já não é necessário o ato de acreditar. Com a questão Deus, embora eu considere mais complexa, poderíamos dizer quase que exatamente a mesma coisa, e assim a colocamos em seu devido lugar: No campo da FÉ , da CRENÇA (poderíamos acrescentar também o campo da Filosofia, onde o assunto é bastante popular).
Não há como se saber ao certo se Deus existe e, não há nem mesmo meios de se investigar de modo a encontrar uma prova conclusiva da existência de um ente superior. Ele pode muito bem existir ou não, porém do mesmo modo que um teísta pode estar equivocado na crença de que Deus existe, o ateísta também pode estar equivocado em relação a sua descrença ou crença na inexistência (este último caso, quando o ateísmo ultrapassa uma simples dúvida, dando lugar uma uma forte e dogmática convicção de não existência).
No texto do link do início da postagem, mostra uma típica argumentação ateísta para refutar a existência de Deus que se baseia no seguinte princípio: Um teísta diz que existe um Deus, o ateísta então contra ataca - Então me prove que existe. O teísta lhe diz que não pode provar a existência de Deus, mas também diz que o ateísta não pode provar que ele não exista. E é nessa hora que o argumento clichê entra em ação, quando o ateísta diz - Eu tenho um jardim, e posso te dizer seguramente que existem fadas perambulando por ele. Obviamente o teísta não acreditaria e pediria provas. O ateísta então começa a alegar que não pode provar que as fadas existem e também que o teísta, por outro lado não pode provar que não existem, e no final diz: Está vendo agora o porquê de eu não acreditar em Deus?
Eu sou da opinião de que argumentos do tipo mostrado acima (típicos argumentos como comparações com "dragões na garagem", sacís, Unicórnio cor de rosa, etc...) nada mais são do que tentativas de formular armadilhas para tentar tornar a crença num Deus equivalente à existências hipotéticas (e na maioria das vezes, absurdas), quando na verdade analisando a fundo as duas questões, entendemos que estamos lidando com situações completamente diferentes. Resumindo: Se não existem provas da existência de Deus, e ao mesmo tempo também não existem provas de dragões na garagem ou unicórnios cor-de-rosa,somado à impossibilidade de serem provados inexistentes, não implica que as duas situações sejam equivalentes.
II- Causas de Deus
É bastante comum alegar que, se o Universo existe, ele deve ter tido uma causa e esta causa seria atribuída à Deus, de acordo com a visão do teísta. Atualmente temos boas razões para que aceitemos a Teoria do Big Bang como o princípio do Universo, onde toda a matéria, em um passado remoto, esteve condensada em um ponto de densidade infinitamente elevada, conhecido como singularidade até que postariormente começou a se espandir iniciando- se assim o espaço-tempo. Mas poderia ser feita a seguinte pergunta: Qual seria a causa de tudo isso. Um teísta responde: Deus. O ateísta questiona: Então , se Deus existe, qual seria a sua causa, e se a sua causa existe, qual seria a causa da causa? E assim o problema se estende ad infinitum. (baseando-se no axioma de que para todo efeito deve haver uma causa).
Na verdade não sabemos ao certo explicar de forma exata como foi a formação do universo, se o universo é cíclico, se sempre existiu, ou até mesmo se existem outros universos além do que conhecemos.Mas em relação a idéia de uma deidade, vejo que estaria mais diretamente envolvida não em COMO o Universo se formou, mas sim em POR QUÊ o Universo foi formado, e se existe algum SENTIDO em ter se formado.
Eu colocaria 4 hipóteses dentro do contexto da causa de Deus:
1- Deus poderia existir e não teve uma causa, existindo desde sempre.
2- Deus poderia existir e teve uma causa completamente fora do alcance do conhecimento humano.
3- Se Deus existir e for mesmo um Deus, quem seríamos nós para julgar a sua existência ou não baseando-se na ausência do conhecimento da Causa?
4- Deus simplesmente pode não existir.
Das 4 hipóteses expostas acima, qual seria a mais simples de ser aceita? Obviamente a hipótese 4 é a mais simples, pois colocar um Deus dentro da questão implicaria em mais questões a serem respondidas, e para os ateus, ao invés de estarmos solucionando o problema, estaríamos aumentando-o, visto que o princípio da Navalha de Ockham estabelece que , dentre as mais diversas hipóteses que existam para explicar um evento, seja aceita aquela que apresente maior objetividade e simplicidade. Isso é muito bem aplicado no campo das ciências, mas seria o mesmo com o problema da existência divina, que nem mesmo faz parte do território científico?
Cientificamente falando, a hipótese Deus não é necessária para explicar eventos naturais, porém mais uma vez eu chamo atenção para o fato de que se existe uma força superior no Universo, ela estaria mais associada aos "PORQUÊS", e não aos "COMOS". Não estamos nos referindo à como o Universo surgiu, mas sim à seguinte questão: Existe um sentido para a existência de tudo o que conhecemos?
Os ateus costumam eliminar essa questão dizendo que o Universo não precisa ter um sentido, e eu concordo perfeitamente que as coisas não precisam ter um sentido. Mas o fato de não precisar ter um sentido significa que realmente não o tenha? NÃO, não. significa Eu poderia simplesmente aceitar a 4ª hipótese ( a de que realmente pode não existir Deus algum) e colocar um rótulo na minha testa escrito "ATEU" (que aliás, pelo modo como estão aparecendo ateus com características bastante similares àquelas de muitos religiosos, só que em sentido oposto, não me surpreenderia caso visse algo parecido acontecer). Porém retornamos a uma questão bem simples: E se eu estiver enganado? E se o Universo não for assim tão simples de ser entendido em sua integridade, como alguns parecem pretender que sejam ?
E mais uma vez Deus retorna ao seu lugar, sendo um objeto de FÉ, não de ciência ou de investigações metodológicas. E como a fé é uma escolha pessoal, cada um tem os seus devidos motivos para crer ou não. Se um ateu tem uma visão de mundo em que ele julga ser a realidade um universo sem Deus, ele deve estar ciente de que ele possui praticamente as mesmas chances de estar enganado do que um teísta cuja visão de mundo julga ser verdade um Universo com algum tipo de deidade, ou que tenha sido criado com algum propósito..
III- Sobre o número de pessoas que acreditam em Deus
Uma outra colocação importante é que muitos teístas tendem a considerar que o fato de uma grande parcela da pupulação acreditar em uma divindade seria uma justificativa para validar a existência de Deus. Alegar essa existência com base no número de pessoas que acreditam (como se a quantidade tivesse peso no julgamento do que seja real ou não quando um objeto de fé está envolvido) consiste em falácia (Argumentum ad numerum , ou ad populum). Além de ser um erro, também se torna e com razão um alvo para as críticas.
IV- Todos nascemos ateus?
No item 3 do texto do link o que me chamou a atenção foi o autor ter utilizado a seguinte sentença:
" Todo mundo, na prática, nasce ateu..."
Considero isso como sendo completamente incorreto. Todo mundo nasce DESPROVIDO não apenas de crenças ou descrenças, como também desprovido de qualquer conhecimento sobre o mundo em que acaba de entrar. Não tem ainda a capacidade de julgar as coisas por si e tirar conclusões próprias. E já que é assim por que classificá-lo como alguem que nasceu ateu, como todos? Não seria mais correto dizer que se trata de alguem que ainda se encontra NEUTRO em relação ao dilema teísmo/ateísmo?
O fato de pessoas nascerem sem conhecimento, crenças ou opiniões não é justificativa para dizer que todos nascemos ateus. Com o desenvolvimento cognitivo e os aprendizados pelos quais a criança passará na medida em que cresce (que irá variar de acordo com a sua criação), ela poderá se tornar apta a escolher o caminho que melhor lhe convêm. O indivíduo formado poderá então se tornar ateu, protestante, católico, budista, agnóstico, etc... Enquanto desprovido de noções complexas ao nascer, não podemos dizer se alguem nasce teísta ou ateísta.
É praticamente impossível não notar que sempre haverá uma tendência à doutrinação de uma criança por parte dos pais, de acordo com as ideologias ou religiões da família. Uma família evangélica muito provavelmente investirá os esforços para tornar também evangélico um bebê que acaba de chegar para fazer parte do lar. E assim o mesmo poderá ocorrer com católicos, espíritas, e também com ateus, que mesmo sem religiões, uma boa parcela deles sem dúvida iria fazer o possível para poder ver o filho igualmente ateu. E é quase que uma verdadeira hipocrisia negar isso.
Compreendo perfeitamente que cada um tem o direito de criar o filho da maneira que achar melhor. Porém, como um defensor do livre pensar e do incentivo ao livre pensar, me posiciono contra qualquer tipo de doutrinação e isso vale tanto para a doutrinação religiosa quanto para uma possível "doutrinação ateísta". Penso que a criança deveria ser criada de modo que lhe seja ensinada paulatinamente a pensar por si mesma, a desenvolver um aguçado senso crítico, a não se tornar uma pessoa facilmente influenciável, e desenvolvendo autonomia suficiente para escolher o próprio caminho e trilhar esse caminho da melhor forma possível.
Muito tem sido dito em relação ao ensino religioso nas escolas e as críticas muitas vezes recaem no fato de que o ensino religioso visa doutrinar as crianças. Na minha opinião o ensino religioso deveria ser ministrado somente a partir de uma certa idade e não com o objetivo de doutrinar, mas sim de ensinar os fundamentos básicos das religiões mais comuns. Deveria também ser ensinado uma base de Teologia sob uma visão mais filosófica do que religiosa, assim como noções de ateísmo, agnosticismo e espiritualismo. E que as escolhas possam ser feitas, sabendo-se que a criança está se tornando livre para tomar as suas decisões e em uma época em que é possível ter essa liberdade, pois à décadas atrás ainda sofreríamos uma série de imposições, e para alguns isso ainda representa uma dificuldade quando as pessoas próximas e familiares são bastante conservadores.
V- A crítica ao Deus religioso
Acredito que uma boa parte dos que se dizem ateus, assim o são porque têm em mente uma idéia pré-concebida de que Deus consiste num ser antropomorfico, vingativo e contraditório. O Deus segundo a visão bíblica. Na verdade inúmeras interpretações poderiam ser feitas sobre o que poderia vir a ser Deus. Também acho importante dizer que não é necessário nenhuma religião para se acreditar em Deus e o conceito de Deus pode ser bastante abrangente de acordo com as mais diversas visões (colocando a questão como sendo também um importante tema em Filosofia).
Eu particularmente não acredito na existência da figura divina pregada pelas religiões. Mas não vejo motivos para não considerar ao menos a POSSIBILIDADE de existência de algo maior e que faz parte do Universo juntamente com suas leis, o que eu chamaria de uma possível "mente cósmica", embora seja impossível de ser definida com exatidão.
Os incrédulos em geral gostam muito de utilizar em suas argumentações a palavra ACASO. O Universo seria nada mais, nada menos do que uma imensa obra do acaso, governado por coincidências fantásticas sem nenhuma razão ou motivo maior para ser o que é. De modo algum quero insinuar que assim não possa realmente ser. Porém do mesmo modo que não acredito num ente bíblico, me custa e muito a aceitar a idéia de que o acaso por sí só dirige o Universo, que não possui sentido nenhum, sendo apenas um mero acidente. Poderiam contra argumentar dizendo que as leis naturais podem simplesmente reunir elementos químicos "ao acaso" e formar os mais diversos tipos de compostos. Sendo assim, por que haveria de ser diferente com os eventos que ocorrem em escala colossal? Ok! Maravilha! Mas o que impede a possibilidade de haver uma inteligência por trás das leis naturais? NADA. Podemos concordar que, pelo conhecimento que possuímos, a existência desta "Inteligência" se mostra desnecessária as explicações dos eventos naturais. Mas desnecessária não quer dizer inexistente, porém não há como saber.
Me torno um teísta simplesmente por não aceitar o acaso? Lógico que não, mas sim alguem que admite que, por mais que tenhamos evoluído o nosso conhecimento como Homo sapiens seremos por muito tempo ainda ignorantes para a maioria das questões relacionadas com o que seria realidade ou não perante a vida, ao mundo, e ao Universo. E onde entraria Deus ( ou qualquer tipo de entidade que assim possa ser chamada)nessa história? Ainda continua sendo algo com tanta possibilidade de existir como de não existir. E ter fé na sua existência ou não continua sendo uma questão de escolha PESSOAL .
Não temos atributos que nos permita julgar qual das posições, de tantas existentes, estaria com a verdade. Pode ser que cada grupo carregue consigo um mísero fragmento de uma hipotética verdade universal, ja pararam para pensar nisso? Pois fica aí uma questão a ser refletida, analisada e questionada. Faz parte do instinto humano de competição querer possuir a verdade para sí. Todos queremos estar certos em relação as nossas ideologias e além disso ficamos cada vez mais felizes e satisfeitos quando observamos que outras pessoas começam a compartilhar conosco a mesma "verdade". Puro orgulho e presunção dos homens!
VI- Eu sinto Deus, logo ele deve existir
Té aí um outro erro cometido por teístas. O ato de "sentir", de ter sensações a respeito de Deus ou de qualquer outro objeto de fé fazem parte da experiência subjetiva de um ser humano. E não é nada prudente pretender que a subjetividade se estenda a conceitos Universais. Em outras palavras, O fato de religiosos sentirem a "manifestação de Deus" quando estão orando ou quando estão presenciando momentos de intensa felicidade e abundância em suas vidas, não corresponde a uma PROVA de que Deus existe. O teísta deve ter em mente que o que ele tem na verdade é FÉ na existência de Deus, e não deveria cair no dogmatismo de ter a ABSOLUTA CERTEZA da existência de Deus. Uma coisa é ACREDITAR que Ele exista, outra seria AFIRMAR que sem dúvidas ele existe. Ao último caso, cabe ao afirmante o ônus da prova, e portanto sempre é necessário ter cautela com tais tipos de afirmação. Um ateu que também AFIRMA a não existência de Deus, está , de certo modo, cometendo o mesmo erro, como se estivesse também isento do ônus da prova de sua afirmação.
VII- Sem religião, como seria o mundo?
Por um lado, os teístas afirmam que a religião seria um pré-requisito para uma boa postura ética e moral das sociedades. As religiões podem sim mostrar ao ser humano a seguir uma vida digna (Embora infelizmente alguns líderes usem de imposições ou ameaças de "castigos divinos") porém não é necessário ser adepto de religiões para se ter uma excelente conduta moral, altruísta e exemplar.E ainda acrescento, que os religiosos que se disfarçam de benevolentes por temerem um inferno ou visando algum interesse, na verdade não estão sendo os "bons samaritanos", mas sim hipócritas! Moralidade é algo que deve ser ensinado desde o berço, é algo que deve ter as suas raízes assentadas na educação que recebemos principalmente no lar.
Do outro lado, os críticos costumam culpar as religiões e colocá-las como sendo a causa de uma grande quantidade de atrocidades que já foi cometida e ainda é cometida pelos homens. O que eu julgo ser imprudente, pois a causa não está nas religiões mas sim nos homens que ao longo do tempo utilizaram e utilizam o nome da religião como pretexto para a manipulação em massa, para enriquecer as custas da fragilidade e ingênuidade dos povos, para se tornarem mártires, martirizando também a vida de outros com promessas de recompensas futuras e incertas. Mas de quem seria realmente a culpa: Das religiões ou dos homens? Seria diferente se não houvessem religiões no mundo? Como eu já tinha dito em outra postagem. Se não houvessem religiões, muito provavelmente os homens cometeriam os mesmos atos em nome de qualquer outra causa.
VIII- Como Deus pode existir em meio a tantas desgraças que ocorrem no mundo?
Sem dúvida é um bom argumento contra a idéia de um Deus religioso, onipotente, onipresente e onisciente. Tomamos conhecimento, através de nossos modernos meios de comunicação ou da mídia, de um enorme número de tragédias ocorrendo nos 4 cantos do mundo (e que por sinal , temos uma forte tendência em nos apegarmos à notícias ruíns mostradas pela mídia como se, de certo modo, "gostássemos" de ligar a TV e dar de cara com tais informações, sendo que o mesmo não acontece quando temos a oportunidade tomar conhecimento de boas notícias, pois elas caem no esquecimento com muito mais facilidade).
Entre exemplos mais famosos poderíamos citar Tsunamis na Ásia, acidentes com aviões da GOL, TAM, Air France, etc., fome na África entre outras mais, onde eu incluiria casos um pouco mais particulares onde perdemos pessoas que tanto amamos. Entram em campo as seguintes perguntas: Como Deus (sendo bondoso ou misericordioso) pôde permitir uma desgraça dessas? Se ele é onisciente e sabia que isso iria acontecer, por quê não impediu? Seria isso uma obra de satanás?
Vejamos bem: Respostas para esses tipos de perguntas são complicadas, sempre havendo o risco de explicações ad hoc e no contexto religioso podem recair sobre inúmeras condições onde se levariam em conta uma série de fatores, como por exemplo a existência de entidades demoníacas, lei do Karma, reencarnações,etc.( os dois últimos possuem abordagens filosóficas muito mais complexas do que seriam ao se levar em conta o cunho religioso, e isso seria um interessante tema para uma matéria futura a ser postada neste blog).
Como disse, o argumento pode ser uma pedra no sapato para os defensores de um Deus religioso, mas seria suficiente para descartar a possibilidade de uma força superior? Não! O que é preciso ser entendido é que apesar de tantas trágédias acontecendo no mundo, quando submetidas à uma análise mais cuidadosa, poderíamos inferir que na maioria delas a causa principal está advinha em quem ? No ser humano! O homem inventou as armas, passou praticamente todas as eras de sua existência desencadeando ou declarando guerras, construiu as bombas de hidrogênio, de urânio e de plutônio, e sem contar que ao longo de sua história, se julgou como possuidor do direito de utilizar indiscriminadamente os recursos naturais em prol do seu desenvolvimento, como se a natureza não fosse, mais cedo ou mais tarde, "cobrar o seu preço" (vide Aquecimento global).
Outro fato é que praticamente tudo na natureza parece se comportar como um ciclo, e assim deve proceder para que um equilíbrio seja estabelecido. E independente da existência ou não de algo superior, o Universo é indiferente aos nossos desejos, vontades ou crenças. Nascer, viver , reproduzir e morrer é a base do papel biológico de cada organismo vivo. Só não sabemos quando e onde isso irá nos atingir. Está na nossa natureza o instinto de sobrevivência, assim como em qualquer outro animal (os homens muitas vezes se esquecem de que apesar de sermos dotados de uma poderosa consciência e uma poderosa inteligência, ainda continuamos a ser animais).
Os leões em uma savana lutam pela sobrevivência e ao contrário do que poderia ser interpretado ao se assistir um documentário do Discovery channel ou National Geographic channel, são poucas as caçadas dos leões que são bem sucedidas (os canais costumam mostrar simplesmente aquelas que foram bem sucedidas), e para cada presa abatida para alimentar a família, inúmeras outras tentativas de caça fracassaram. Quando vemos uma zebra morta na boca de leões poderíamos e com razão, sentir piedade da zebra, mas por outro lado foi um grande momento para o leão, que precisa da carne para sobreviver e alimentar o seu bando.
Nossa sociedade não se difere tanto assim das sociedades animais. Apesar de poder estarmos estabilizados com certos padrões de comportamento, não temos a mínima idéia do que poderíamos ser capazes de fazer caso a nossa sobrevivência estivesse em jogo. E como disse, a natureza nos é indiferente, e infelizmente (ou felizmente) a morte é a única certeza que temos. Seja ela trágica ou não, ela chegará para todos nós. Se existe algo depois da morte, como por exemplo, a consciência, que, de alguma forma "sobreviva" a morte do corpo, é algo que permanecerá como uma questão não resolvida. Poderemos descobrir quando chegar a nossa hora. Ou , no caso de não existir, nem mesmo saberemos que morremos, pois qualquer capacidade de visão, análise ou julgamento foi perdida com a morte.
IX- A Ciência seria justificativa para o ateísmo?
Essa questão também costuma representar um outro problema, e que acaba por gerar uma série de "mal entendidos". A ciência simplesmente não tem absolutamente NADA a ver com ateísmo. E infelizmente tanto teístas quanto ateístas (sem generalizar) insistem em ver a ciência quase que como um sinônimo de ateísmo. A ciência nos fornece um importante conjunto de metodologias que nos permite observar, investigar, experimentar e estabelecer hipóteses ou teorias sobre COMO os eventos naturais ocorrem, visando com isso um melhor entendimento e aproximação do que seria realidade em nosso mundo. Contudo não é dever da ciência se preucupar com questões do tipo Deus.
Então, perguntariam: Por quê uma grande parte da comunidade científica (no ocidente, principalmente) não acreditam em Deus? Essa seria uma pergunta que eu não saberia responder com precisão, mas continuaria a dizer que acreditar ou não ainda é uma questão pessoal e não científica. E me arrisco mais ainda a dizer, com base em observações próprias, que um dos principais motivos poderia ser o fato de que muitos que trabalham no meio científico, se apegaram de tal modo ao ato de enxergar o mundo APENAS pelo ponto de vista científico, que não conseguem conceber qualquer outro tipo de provável realidade que esteja fora do campo da ciência, sendo que muitas coisas poderiam perfeitamente estar existindo sem sequer chegar a um dia fazer parte de abordagens científicas. E assim permanecem até que seja provado o contrário. É justamente neste contexto que eu enfatizo a importância da Filosofia como uma forma de pensar, questionar e ao mesmo tempo hipotetizar possíveis respostas, para perguntas que a ciência talvez jamais responda. E é claro que até mesmo os nossos valores pessoais também sempre devem ser questionados.
O Físico brasileiro Marcelo Glaiser (que é ateu) faz uma sensata citação no início de seu livro entitulado "A Dança do Universo":
I- Provas da existência de Deus
Existem provas definitivas de que exista um Deus no Universo? A resposta é NÃO! Não existem provas que sustentem a existência de um ser supremo. O fato de não existir provas é suficiente para concluir que Deus não existe? Obviamente a resposta também é não! Mas e se ele Existir? Por que teríamos necessariamente capacidade ou meios de encontrar provas de algo que nem ao menos conseguimos definir com precisão e que poderia (supostamente) ser incomparavelmente superior à humanidade? A ausência de comprovação pode ser um motivo aceitável para alguem não acreditar em algo, mas não para descartar uma possibilidade de existência. Como havia dito em uma outra postagem, ao meu ver, desde o momento em que surgem comprovações de algo, não há a necessidade de se acreditar nesse algo, mas sim de se aceitar como sendo um fato. O verbo acreditar, para mim, continua sendo mais compatível com aquilo que não pode ser comprovado.
Como por exemplo: Muitos cientistas ACREDITAM que exista vida em outros planetas ou em algum outro lugar na imensidão do cosmos. Porém NÃO HÁ EVIDÊNCIAS que comprovem a existência de vida em outro lugar que não a nossa morada Terra. Caso sejam encontradas tais evidências, simplesmente deve se ACEITAR o fato de que em algum lugar fora de nosso planeta foi encontrado vida. Neste contexto já não é necessário o ato de acreditar. Com a questão Deus, embora eu considere mais complexa, poderíamos dizer quase que exatamente a mesma coisa, e assim a colocamos em seu devido lugar: No campo da FÉ , da CRENÇA (poderíamos acrescentar também o campo da Filosofia, onde o assunto é bastante popular).
Não há como se saber ao certo se Deus existe e, não há nem mesmo meios de se investigar de modo a encontrar uma prova conclusiva da existência de um ente superior. Ele pode muito bem existir ou não, porém do mesmo modo que um teísta pode estar equivocado na crença de que Deus existe, o ateísta também pode estar equivocado em relação a sua descrença ou crença na inexistência (este último caso, quando o ateísmo ultrapassa uma simples dúvida, dando lugar uma uma forte e dogmática convicção de não existência).
No texto do link do início da postagem, mostra uma típica argumentação ateísta para refutar a existência de Deus que se baseia no seguinte princípio: Um teísta diz que existe um Deus, o ateísta então contra ataca - Então me prove que existe. O teísta lhe diz que não pode provar a existência de Deus, mas também diz que o ateísta não pode provar que ele não exista. E é nessa hora que o argumento clichê entra em ação, quando o ateísta diz - Eu tenho um jardim, e posso te dizer seguramente que existem fadas perambulando por ele. Obviamente o teísta não acreditaria e pediria provas. O ateísta então começa a alegar que não pode provar que as fadas existem e também que o teísta, por outro lado não pode provar que não existem, e no final diz: Está vendo agora o porquê de eu não acreditar em Deus?
Eu sou da opinião de que argumentos do tipo mostrado acima (típicos argumentos como comparações com "dragões na garagem", sacís, Unicórnio cor de rosa, etc...) nada mais são do que tentativas de formular armadilhas para tentar tornar a crença num Deus equivalente à existências hipotéticas (e na maioria das vezes, absurdas), quando na verdade analisando a fundo as duas questões, entendemos que estamos lidando com situações completamente diferentes. Resumindo: Se não existem provas da existência de Deus, e ao mesmo tempo também não existem provas de dragões na garagem ou unicórnios cor-de-rosa,somado à impossibilidade de serem provados inexistentes, não implica que as duas situações sejam equivalentes.
II- Causas de Deus
É bastante comum alegar que, se o Universo existe, ele deve ter tido uma causa e esta causa seria atribuída à Deus, de acordo com a visão do teísta. Atualmente temos boas razões para que aceitemos a Teoria do Big Bang como o princípio do Universo, onde toda a matéria, em um passado remoto, esteve condensada em um ponto de densidade infinitamente elevada, conhecido como singularidade até que postariormente começou a se espandir iniciando- se assim o espaço-tempo. Mas poderia ser feita a seguinte pergunta: Qual seria a causa de tudo isso. Um teísta responde: Deus. O ateísta questiona: Então , se Deus existe, qual seria a sua causa, e se a sua causa existe, qual seria a causa da causa? E assim o problema se estende ad infinitum. (baseando-se no axioma de que para todo efeito deve haver uma causa).
Na verdade não sabemos ao certo explicar de forma exata como foi a formação do universo, se o universo é cíclico, se sempre existiu, ou até mesmo se existem outros universos além do que conhecemos.Mas em relação a idéia de uma deidade, vejo que estaria mais diretamente envolvida não em COMO o Universo se formou, mas sim em POR QUÊ o Universo foi formado, e se existe algum SENTIDO em ter se formado.
Eu colocaria 4 hipóteses dentro do contexto da causa de Deus:
1- Deus poderia existir e não teve uma causa, existindo desde sempre.
2- Deus poderia existir e teve uma causa completamente fora do alcance do conhecimento humano.
3- Se Deus existir e for mesmo um Deus, quem seríamos nós para julgar a sua existência ou não baseando-se na ausência do conhecimento da Causa?
4- Deus simplesmente pode não existir.
Das 4 hipóteses expostas acima, qual seria a mais simples de ser aceita? Obviamente a hipótese 4 é a mais simples, pois colocar um Deus dentro da questão implicaria em mais questões a serem respondidas, e para os ateus, ao invés de estarmos solucionando o problema, estaríamos aumentando-o, visto que o princípio da Navalha de Ockham estabelece que , dentre as mais diversas hipóteses que existam para explicar um evento, seja aceita aquela que apresente maior objetividade e simplicidade. Isso é muito bem aplicado no campo das ciências, mas seria o mesmo com o problema da existência divina, que nem mesmo faz parte do território científico?
Cientificamente falando, a hipótese Deus não é necessária para explicar eventos naturais, porém mais uma vez eu chamo atenção para o fato de que se existe uma força superior no Universo, ela estaria mais associada aos "PORQUÊS", e não aos "COMOS". Não estamos nos referindo à como o Universo surgiu, mas sim à seguinte questão: Existe um sentido para a existência de tudo o que conhecemos?
Os ateus costumam eliminar essa questão dizendo que o Universo não precisa ter um sentido, e eu concordo perfeitamente que as coisas não precisam ter um sentido. Mas o fato de não precisar ter um sentido significa que realmente não o tenha? NÃO, não. significa Eu poderia simplesmente aceitar a 4ª hipótese ( a de que realmente pode não existir Deus algum) e colocar um rótulo na minha testa escrito "ATEU" (que aliás, pelo modo como estão aparecendo ateus com características bastante similares àquelas de muitos religiosos, só que em sentido oposto, não me surpreenderia caso visse algo parecido acontecer). Porém retornamos a uma questão bem simples: E se eu estiver enganado? E se o Universo não for assim tão simples de ser entendido em sua integridade, como alguns parecem pretender que sejam ?
E mais uma vez Deus retorna ao seu lugar, sendo um objeto de FÉ, não de ciência ou de investigações metodológicas. E como a fé é uma escolha pessoal, cada um tem os seus devidos motivos para crer ou não. Se um ateu tem uma visão de mundo em que ele julga ser a realidade um universo sem Deus, ele deve estar ciente de que ele possui praticamente as mesmas chances de estar enganado do que um teísta cuja visão de mundo julga ser verdade um Universo com algum tipo de deidade, ou que tenha sido criado com algum propósito..
III- Sobre o número de pessoas que acreditam em Deus
Uma outra colocação importante é que muitos teístas tendem a considerar que o fato de uma grande parcela da pupulação acreditar em uma divindade seria uma justificativa para validar a existência de Deus. Alegar essa existência com base no número de pessoas que acreditam (como se a quantidade tivesse peso no julgamento do que seja real ou não quando um objeto de fé está envolvido) consiste em falácia (Argumentum ad numerum , ou ad populum). Além de ser um erro, também se torna e com razão um alvo para as críticas.
IV- Todos nascemos ateus?
No item 3 do texto do link o que me chamou a atenção foi o autor ter utilizado a seguinte sentença:
" Todo mundo, na prática, nasce ateu..."
Considero isso como sendo completamente incorreto. Todo mundo nasce DESPROVIDO não apenas de crenças ou descrenças, como também desprovido de qualquer conhecimento sobre o mundo em que acaba de entrar. Não tem ainda a capacidade de julgar as coisas por si e tirar conclusões próprias. E já que é assim por que classificá-lo como alguem que nasceu ateu, como todos? Não seria mais correto dizer que se trata de alguem que ainda se encontra NEUTRO em relação ao dilema teísmo/ateísmo?
O fato de pessoas nascerem sem conhecimento, crenças ou opiniões não é justificativa para dizer que todos nascemos ateus. Com o desenvolvimento cognitivo e os aprendizados pelos quais a criança passará na medida em que cresce (que irá variar de acordo com a sua criação), ela poderá se tornar apta a escolher o caminho que melhor lhe convêm. O indivíduo formado poderá então se tornar ateu, protestante, católico, budista, agnóstico, etc... Enquanto desprovido de noções complexas ao nascer, não podemos dizer se alguem nasce teísta ou ateísta.
É praticamente impossível não notar que sempre haverá uma tendência à doutrinação de uma criança por parte dos pais, de acordo com as ideologias ou religiões da família. Uma família evangélica muito provavelmente investirá os esforços para tornar também evangélico um bebê que acaba de chegar para fazer parte do lar. E assim o mesmo poderá ocorrer com católicos, espíritas, e também com ateus, que mesmo sem religiões, uma boa parcela deles sem dúvida iria fazer o possível para poder ver o filho igualmente ateu. E é quase que uma verdadeira hipocrisia negar isso.
Compreendo perfeitamente que cada um tem o direito de criar o filho da maneira que achar melhor. Porém, como um defensor do livre pensar e do incentivo ao livre pensar, me posiciono contra qualquer tipo de doutrinação e isso vale tanto para a doutrinação religiosa quanto para uma possível "doutrinação ateísta". Penso que a criança deveria ser criada de modo que lhe seja ensinada paulatinamente a pensar por si mesma, a desenvolver um aguçado senso crítico, a não se tornar uma pessoa facilmente influenciável, e desenvolvendo autonomia suficiente para escolher o próprio caminho e trilhar esse caminho da melhor forma possível.
Muito tem sido dito em relação ao ensino religioso nas escolas e as críticas muitas vezes recaem no fato de que o ensino religioso visa doutrinar as crianças. Na minha opinião o ensino religioso deveria ser ministrado somente a partir de uma certa idade e não com o objetivo de doutrinar, mas sim de ensinar os fundamentos básicos das religiões mais comuns. Deveria também ser ensinado uma base de Teologia sob uma visão mais filosófica do que religiosa, assim como noções de ateísmo, agnosticismo e espiritualismo. E que as escolhas possam ser feitas, sabendo-se que a criança está se tornando livre para tomar as suas decisões e em uma época em que é possível ter essa liberdade, pois à décadas atrás ainda sofreríamos uma série de imposições, e para alguns isso ainda representa uma dificuldade quando as pessoas próximas e familiares são bastante conservadores.
V- A crítica ao Deus religioso
Acredito que uma boa parte dos que se dizem ateus, assim o são porque têm em mente uma idéia pré-concebida de que Deus consiste num ser antropomorfico, vingativo e contraditório. O Deus segundo a visão bíblica. Na verdade inúmeras interpretações poderiam ser feitas sobre o que poderia vir a ser Deus. Também acho importante dizer que não é necessário nenhuma religião para se acreditar em Deus e o conceito de Deus pode ser bastante abrangente de acordo com as mais diversas visões (colocando a questão como sendo também um importante tema em Filosofia).
Eu particularmente não acredito na existência da figura divina pregada pelas religiões. Mas não vejo motivos para não considerar ao menos a POSSIBILIDADE de existência de algo maior e que faz parte do Universo juntamente com suas leis, o que eu chamaria de uma possível "mente cósmica", embora seja impossível de ser definida com exatidão.
Os incrédulos em geral gostam muito de utilizar em suas argumentações a palavra ACASO. O Universo seria nada mais, nada menos do que uma imensa obra do acaso, governado por coincidências fantásticas sem nenhuma razão ou motivo maior para ser o que é. De modo algum quero insinuar que assim não possa realmente ser. Porém do mesmo modo que não acredito num ente bíblico, me custa e muito a aceitar a idéia de que o acaso por sí só dirige o Universo, que não possui sentido nenhum, sendo apenas um mero acidente. Poderiam contra argumentar dizendo que as leis naturais podem simplesmente reunir elementos químicos "ao acaso" e formar os mais diversos tipos de compostos. Sendo assim, por que haveria de ser diferente com os eventos que ocorrem em escala colossal? Ok! Maravilha! Mas o que impede a possibilidade de haver uma inteligência por trás das leis naturais? NADA. Podemos concordar que, pelo conhecimento que possuímos, a existência desta "Inteligência" se mostra desnecessária as explicações dos eventos naturais. Mas desnecessária não quer dizer inexistente, porém não há como saber.
Me torno um teísta simplesmente por não aceitar o acaso? Lógico que não, mas sim alguem que admite que, por mais que tenhamos evoluído o nosso conhecimento como Homo sapiens seremos por muito tempo ainda ignorantes para a maioria das questões relacionadas com o que seria realidade ou não perante a vida, ao mundo, e ao Universo. E onde entraria Deus ( ou qualquer tipo de entidade que assim possa ser chamada)nessa história? Ainda continua sendo algo com tanta possibilidade de existir como de não existir. E ter fé na sua existência ou não continua sendo uma questão de escolha PESSOAL .
Não temos atributos que nos permita julgar qual das posições, de tantas existentes, estaria com a verdade. Pode ser que cada grupo carregue consigo um mísero fragmento de uma hipotética verdade universal, ja pararam para pensar nisso? Pois fica aí uma questão a ser refletida, analisada e questionada. Faz parte do instinto humano de competição querer possuir a verdade para sí. Todos queremos estar certos em relação as nossas ideologias e além disso ficamos cada vez mais felizes e satisfeitos quando observamos que outras pessoas começam a compartilhar conosco a mesma "verdade". Puro orgulho e presunção dos homens!
VI- Eu sinto Deus, logo ele deve existir
Té aí um outro erro cometido por teístas. O ato de "sentir", de ter sensações a respeito de Deus ou de qualquer outro objeto de fé fazem parte da experiência subjetiva de um ser humano. E não é nada prudente pretender que a subjetividade se estenda a conceitos Universais. Em outras palavras, O fato de religiosos sentirem a "manifestação de Deus" quando estão orando ou quando estão presenciando momentos de intensa felicidade e abundância em suas vidas, não corresponde a uma PROVA de que Deus existe. O teísta deve ter em mente que o que ele tem na verdade é FÉ na existência de Deus, e não deveria cair no dogmatismo de ter a ABSOLUTA CERTEZA da existência de Deus. Uma coisa é ACREDITAR que Ele exista, outra seria AFIRMAR que sem dúvidas ele existe. Ao último caso, cabe ao afirmante o ônus da prova, e portanto sempre é necessário ter cautela com tais tipos de afirmação. Um ateu que também AFIRMA a não existência de Deus, está , de certo modo, cometendo o mesmo erro, como se estivesse também isento do ônus da prova de sua afirmação.
VII- Sem religião, como seria o mundo?
Por um lado, os teístas afirmam que a religião seria um pré-requisito para uma boa postura ética e moral das sociedades. As religiões podem sim mostrar ao ser humano a seguir uma vida digna (Embora infelizmente alguns líderes usem de imposições ou ameaças de "castigos divinos") porém não é necessário ser adepto de religiões para se ter uma excelente conduta moral, altruísta e exemplar.E ainda acrescento, que os religiosos que se disfarçam de benevolentes por temerem um inferno ou visando algum interesse, na verdade não estão sendo os "bons samaritanos", mas sim hipócritas! Moralidade é algo que deve ser ensinado desde o berço, é algo que deve ter as suas raízes assentadas na educação que recebemos principalmente no lar.
Do outro lado, os críticos costumam culpar as religiões e colocá-las como sendo a causa de uma grande quantidade de atrocidades que já foi cometida e ainda é cometida pelos homens. O que eu julgo ser imprudente, pois a causa não está nas religiões mas sim nos homens que ao longo do tempo utilizaram e utilizam o nome da religião como pretexto para a manipulação em massa, para enriquecer as custas da fragilidade e ingênuidade dos povos, para se tornarem mártires, martirizando também a vida de outros com promessas de recompensas futuras e incertas. Mas de quem seria realmente a culpa: Das religiões ou dos homens? Seria diferente se não houvessem religiões no mundo? Como eu já tinha dito em outra postagem. Se não houvessem religiões, muito provavelmente os homens cometeriam os mesmos atos em nome de qualquer outra causa.
VIII- Como Deus pode existir em meio a tantas desgraças que ocorrem no mundo?
Sem dúvida é um bom argumento contra a idéia de um Deus religioso, onipotente, onipresente e onisciente. Tomamos conhecimento, através de nossos modernos meios de comunicação ou da mídia, de um enorme número de tragédias ocorrendo nos 4 cantos do mundo (e que por sinal , temos uma forte tendência em nos apegarmos à notícias ruíns mostradas pela mídia como se, de certo modo, "gostássemos" de ligar a TV e dar de cara com tais informações, sendo que o mesmo não acontece quando temos a oportunidade tomar conhecimento de boas notícias, pois elas caem no esquecimento com muito mais facilidade).
Entre exemplos mais famosos poderíamos citar Tsunamis na Ásia, acidentes com aviões da GOL, TAM, Air France, etc., fome na África entre outras mais, onde eu incluiria casos um pouco mais particulares onde perdemos pessoas que tanto amamos. Entram em campo as seguintes perguntas: Como Deus (sendo bondoso ou misericordioso) pôde permitir uma desgraça dessas? Se ele é onisciente e sabia que isso iria acontecer, por quê não impediu? Seria isso uma obra de satanás?
Vejamos bem: Respostas para esses tipos de perguntas são complicadas, sempre havendo o risco de explicações ad hoc e no contexto religioso podem recair sobre inúmeras condições onde se levariam em conta uma série de fatores, como por exemplo a existência de entidades demoníacas, lei do Karma, reencarnações,etc.( os dois últimos possuem abordagens filosóficas muito mais complexas do que seriam ao se levar em conta o cunho religioso, e isso seria um interessante tema para uma matéria futura a ser postada neste blog).
Como disse, o argumento pode ser uma pedra no sapato para os defensores de um Deus religioso, mas seria suficiente para descartar a possibilidade de uma força superior? Não! O que é preciso ser entendido é que apesar de tantas trágédias acontecendo no mundo, quando submetidas à uma análise mais cuidadosa, poderíamos inferir que na maioria delas a causa principal está advinha em quem ? No ser humano! O homem inventou as armas, passou praticamente todas as eras de sua existência desencadeando ou declarando guerras, construiu as bombas de hidrogênio, de urânio e de plutônio, e sem contar que ao longo de sua história, se julgou como possuidor do direito de utilizar indiscriminadamente os recursos naturais em prol do seu desenvolvimento, como se a natureza não fosse, mais cedo ou mais tarde, "cobrar o seu preço" (vide Aquecimento global).
Outro fato é que praticamente tudo na natureza parece se comportar como um ciclo, e assim deve proceder para que um equilíbrio seja estabelecido. E independente da existência ou não de algo superior, o Universo é indiferente aos nossos desejos, vontades ou crenças. Nascer, viver , reproduzir e morrer é a base do papel biológico de cada organismo vivo. Só não sabemos quando e onde isso irá nos atingir. Está na nossa natureza o instinto de sobrevivência, assim como em qualquer outro animal (os homens muitas vezes se esquecem de que apesar de sermos dotados de uma poderosa consciência e uma poderosa inteligência, ainda continuamos a ser animais).
Os leões em uma savana lutam pela sobrevivência e ao contrário do que poderia ser interpretado ao se assistir um documentário do Discovery channel ou National Geographic channel, são poucas as caçadas dos leões que são bem sucedidas (os canais costumam mostrar simplesmente aquelas que foram bem sucedidas), e para cada presa abatida para alimentar a família, inúmeras outras tentativas de caça fracassaram. Quando vemos uma zebra morta na boca de leões poderíamos e com razão, sentir piedade da zebra, mas por outro lado foi um grande momento para o leão, que precisa da carne para sobreviver e alimentar o seu bando.
Nossa sociedade não se difere tanto assim das sociedades animais. Apesar de poder estarmos estabilizados com certos padrões de comportamento, não temos a mínima idéia do que poderíamos ser capazes de fazer caso a nossa sobrevivência estivesse em jogo. E como disse, a natureza nos é indiferente, e infelizmente (ou felizmente) a morte é a única certeza que temos. Seja ela trágica ou não, ela chegará para todos nós. Se existe algo depois da morte, como por exemplo, a consciência, que, de alguma forma "sobreviva" a morte do corpo, é algo que permanecerá como uma questão não resolvida. Poderemos descobrir quando chegar a nossa hora. Ou , no caso de não existir, nem mesmo saberemos que morremos, pois qualquer capacidade de visão, análise ou julgamento foi perdida com a morte.
IX- A Ciência seria justificativa para o ateísmo?
Essa questão também costuma representar um outro problema, e que acaba por gerar uma série de "mal entendidos". A ciência simplesmente não tem absolutamente NADA a ver com ateísmo. E infelizmente tanto teístas quanto ateístas (sem generalizar) insistem em ver a ciência quase que como um sinônimo de ateísmo. A ciência nos fornece um importante conjunto de metodologias que nos permite observar, investigar, experimentar e estabelecer hipóteses ou teorias sobre COMO os eventos naturais ocorrem, visando com isso um melhor entendimento e aproximação do que seria realidade em nosso mundo. Contudo não é dever da ciência se preucupar com questões do tipo Deus.
Então, perguntariam: Por quê uma grande parte da comunidade científica (no ocidente, principalmente) não acreditam em Deus? Essa seria uma pergunta que eu não saberia responder com precisão, mas continuaria a dizer que acreditar ou não ainda é uma questão pessoal e não científica. E me arrisco mais ainda a dizer, com base em observações próprias, que um dos principais motivos poderia ser o fato de que muitos que trabalham no meio científico, se apegaram de tal modo ao ato de enxergar o mundo APENAS pelo ponto de vista científico, que não conseguem conceber qualquer outro tipo de provável realidade que esteja fora do campo da ciência, sendo que muitas coisas poderiam perfeitamente estar existindo sem sequer chegar a um dia fazer parte de abordagens científicas. E assim permanecem até que seja provado o contrário. É justamente neste contexto que eu enfatizo a importância da Filosofia como uma forma de pensar, questionar e ao mesmo tempo hipotetizar possíveis respostas, para perguntas que a ciência talvez jamais responda. E é claro que até mesmo os nossos valores pessoais também sempre devem ser questionados.
O Físico brasileiro Marcelo Glaiser (que é ateu) faz uma sensata citação no início de seu livro entitulado "A Dança do Universo":
"O debate entre ciência e religião restringe-se na maior parte das vezes à discussão de sua mútua compatibilidade: será possível que uma pessoa possa questionar o mundo cientificamente e ainda assim ser religiosa? Acredito que a resposta é um óbvio sim, contanto que seja claro para essa pessoa que ambas não devem interferir entre si de modo errado, ou seja, que existem limites tanto para a ciência como para a religião. Cientistas não devem abusar da ciência, aplicando-a a situações claramente especulativas, e, apesar disso, sentirem-se justificados em declarar que resolveram ou que podem resolver questões de natureza teológica.Teólogos não devem tentar interpretar textos sagrados cientificamente, porque estes não foram escritos com esse objetivo. Para mim, o que é realmente fascinante é que tanto a ciência como a religião expressam nossa reverência e fascínio pela Natureza."
Lembremos sempre de que FÉ é FÉ e CIÊNCIA é CIÊNCIA. São coisas totalmente diferentes, porém tanto a fé quanto a ciência podem fazer parte de uma personalidade, desde que estejam cada uma em seu devido lugar. Volto a dizer que em ciência não há nenhuma necessidade de se evocar o nome de Deus e utilizá-lo como explicação, ou parte de uma explicação para um determinado evento. Por outro lado se a ciência se preucupa mais em questões sobre COMO o Universo surgiu e se tornou aquilo que é hoje, a fé se restringe (ou ao menos deveria se restringir) ao PORQUÊ de o Universo ter surgido e ser o que é na atualidade.
É comum observarmos muitos religiosos dizendo que cientistas não passam de conspiracionistas, que querem afastar os seres humanos dos caminhos que levam a Deus. Uma idéia absurda sem dúvida, porém não menos absurda do que aquela pregada principalmente por uma nova geração de ateus dogmáticos que está surgindo (pessoas pseudo-intelectuais, preconceituosas, e que não se diferem em praticamente nada, em termos de jeito de ser, dos religiosos mais ignorantes, manchando a imagem daqueles que eu consideraria como sendo autênticos ateus), e que consiste em dizer que o conhecimento científico leva obrigatoriamente as pessoas a assumirem o ateísmo. Ou que o desenvolvimento do intelecto para uma inteligência admirável é característica daqueles que são corajosos o suficiente para abandonar as "muletas psicológicas" da religião e assumir o ateísmo.
Isso não poderia estar mais longe da verdade, na minha opinião. Temos cientistas espetacularmente brilhantes adeptos do Judaísmo, do Catolicismo, do Espiritismo, do Islamismo, do Budismo, do Ateísmo, etc... E por outro lado temos outros de mesmas crenças ou descrença em Deus, porém menos admiráveis. Se faz necessário compreender que existem CIENTISTAS e "cientistas", do mesmo modo que existem RELIGIOSOS e "religiosos".
Baseado em tudo que foi exposto acima não consigo encontrar uma posição que mais se encaixe à minha personalidade, do que uma postura agnosticista ponderada, que leva em conta todas as possibilidades, analisa, reflete, põe em prática o pensamento crítico e a Filosofia sem se apegar a um lado ou a outro. Considerando também que jamais devemos ter a presunção de nos acharmos sábios o suficiente para nos convencer de que temos reazão em relação a algo, pois o Universo sempre teve e sempre terá o poder de nos surpreender quando menos esperamos. De maneira alguma tenho algo contra a alguém assumir a posição ateísta. Tenho um enorme respeito e amigos ateus que são pessoas formidáveis (uns mais ateus do que outros, diríamos assim rsrs), Apenas "não jogo no mesmo time". Quanto à questão Deus, esta permanece como uma das grandes perguntas em aberto. Se ele existir (ou se existir qualquer entidade que possa ser dita SUPERIOR), ótimo! Isso poderia ser um indício de que pode realmente haver um sentido para a existência. Se não existir, ótimo também! O Universo não se tornará menos admirável devido a isso!
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Lembremos sempre de que FÉ é FÉ e CIÊNCIA é CIÊNCIA. São coisas totalmente diferentes, porém tanto a fé quanto a ciência podem fazer parte de uma personalidade, desde que estejam cada uma em seu devido lugar. Volto a dizer que em ciência não há nenhuma necessidade de se evocar o nome de Deus e utilizá-lo como explicação, ou parte de uma explicação para um determinado evento. Por outro lado se a ciência se preucupa mais em questões sobre COMO o Universo surgiu e se tornou aquilo que é hoje, a fé se restringe (ou ao menos deveria se restringir) ao PORQUÊ de o Universo ter surgido e ser o que é na atualidade.
É comum observarmos muitos religiosos dizendo que cientistas não passam de conspiracionistas, que querem afastar os seres humanos dos caminhos que levam a Deus. Uma idéia absurda sem dúvida, porém não menos absurda do que aquela pregada principalmente por uma nova geração de ateus dogmáticos que está surgindo (pessoas pseudo-intelectuais, preconceituosas, e que não se diferem em praticamente nada, em termos de jeito de ser, dos religiosos mais ignorantes, manchando a imagem daqueles que eu consideraria como sendo autênticos ateus), e que consiste em dizer que o conhecimento científico leva obrigatoriamente as pessoas a assumirem o ateísmo. Ou que o desenvolvimento do intelecto para uma inteligência admirável é característica daqueles que são corajosos o suficiente para abandonar as "muletas psicológicas" da religião e assumir o ateísmo.
Isso não poderia estar mais longe da verdade, na minha opinião. Temos cientistas espetacularmente brilhantes adeptos do Judaísmo, do Catolicismo, do Espiritismo, do Islamismo, do Budismo, do Ateísmo, etc... E por outro lado temos outros de mesmas crenças ou descrença em Deus, porém menos admiráveis. Se faz necessário compreender que existem CIENTISTAS e "cientistas", do mesmo modo que existem RELIGIOSOS e "religiosos".
Baseado em tudo que foi exposto acima não consigo encontrar uma posição que mais se encaixe à minha personalidade, do que uma postura agnosticista ponderada, que leva em conta todas as possibilidades, analisa, reflete, põe em prática o pensamento crítico e a Filosofia sem se apegar a um lado ou a outro. Considerando também que jamais devemos ter a presunção de nos acharmos sábios o suficiente para nos convencer de que temos reazão em relação a algo, pois o Universo sempre teve e sempre terá o poder de nos surpreender quando menos esperamos. De maneira alguma tenho algo contra a alguém assumir a posição ateísta. Tenho um enorme respeito e amigos ateus que são pessoas formidáveis (uns mais ateus do que outros, diríamos assim rsrs), Apenas "não jogo no mesmo time". Quanto à questão Deus, esta permanece como uma das grandes perguntas em aberto. Se ele existir (ou se existir qualquer entidade que possa ser dita SUPERIOR), ótimo! Isso poderia ser um indício de que pode realmente haver um sentido para a existência. Se não existir, ótimo também! O Universo não se tornará menos admirável devido a isso!
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